O jardineiro é a melhor metáfora para
designar a excelência do educador e do terapeuta. O bom jardineiro prepara um
solo fértil, com os nutrientes necessários - nem de mais, nem de menos -
extermina as pragas e poda, com o discernimento que cada planta requer,
observando as estações e centrado na singularidade do organismo vegetal.
Sobretudo, o bom jardineiro é o amante da planta. Jamais será tão tolo a ponto
de querer doutriná-la com suas teorias e ideais, aceitando e admirando a beleza
da biodiversidade.
O bom jardineiro sabe que a planta só necessita de um solo
fecundo, crescendo por si mesma, já que é dotada de um tropismo para ser o que
é, buscando o que necessita no solo e direcionando-se para a luz do sol.
O que seria de um jasmim se forçado a ser como uma rosa?
Aqui, tocamos o coração da tragédia de um modelo educacional
distorcido e esclerosado, a serviço da normóse que, infelizmente, é ainda
dominante: a criança é forçada a ser o que não é, por meio do fórceps de um
currículo estreito e rígido e do instrumento torturante da comparação.
Comparar uma criança com outra ainda será considerado um
crime, num futuro breve e mais saudável. Essa é a gênese da perversão e da
corrupção. Para conseguir aprovação, o estudante é obrigado a jogar sua
diferença e sua originalidade na lata do lixo, vendendo-se por notas. Mais
tarde, poderá se vender por outras notas...
É desolador ter que reconhecer que, na horta de um
horticultor qualquer, um pé de alface é muito mais bem tratado do que nossas
crianças estão sendo, nesse simulacro de escola. O que pensaríamos de um
horticultor que exigisse, de todas as suas diversas hortaliças, o mesmo
desempenho, o mesmo resultado?
Cada aprendiz necessita ser respeitado na sua alteridade e no
seu estilo próprio de aprender a aprender. Numa escola saudável, o educador
centra-se no aprendiz - e não num programa rígido, massificador e castrador do
brilho e da originalidade que emanam de cada pessoa. Utopia!, esbravejarão
alguns. Permito-me lembrar-lhes, então, que utopia não é o irrealizável; é
tão-somente o ainda não realizado, aquilo para o qual ainda não existe espaço.
É tempo de educar educadores. É tempo de ousar resgatar o
espaço sagrado onde o aprendiz possa orientar seu coração para aprender,
sobretudo, a ser plenamente o que ele é. É tempo de conspirar por uma educação
não-normótica, centrada na totalidade. É tempo de reconstruir o templo da
inteireza.
Concluo com uma fala antiga que aponta para a essência do que
é educar:
Aos quinze anos orientei o meu coração para aprender. Aos
trinta, plantei meus pés firmemente no chão. Aos quarenta, não mais sofria de
perplexidade. Aos cinqüenta, sabia quais eram os preceitos do céu. Aos
sessenta, eu os ouvia com ouvido dócil. Aos setenta, eu podia seguir as
indicações do meu próprio coração, pois o que eu desejava não mais excedia as
fronteiras da Justiça. Confúcio (2.600 a.C.)
"Só a rede do amor pode fazer frente à rede do terror.
Podemos juntar nossas mentes e corações, dando-nos as mãos, numa corrente de
fraternidade, de confiança e de prece, para que a flor possa brotar da dor,
para que possamos renascer deste calvário coletivo, para que não tarde a Luz no
final dos escombros".