Se em um primeiro instante Mandy Harvey parece simplesmente mais uma concorrente tentando provar seu talento no programa de jurados America's Got Talent, rapidamente é possível perceber que há algo de incomum em tal cena: sorridente com seu ukulele nas mãos, Mandy é questionada pelo jurado Simon Cowell quem seria aquela pessoa que, de fora do palco, parecia pronta a lhe acompanhar em seu número. Mandy responde que aquela é sua intérprete - descobre-se então que a cantora a tomar o palco é surda.
Mandy perdeu sua audição aos 18 anos, por conta de uma doença, mas ao invés de desistir da música - e, logo, de toda sua vida até ali, visto que ela cantava desde os 4 anos de idade - ela decidiu apostar em sua memória muscular e sua afinação. Utilizando a vibração do som (e é por isso que ela se apresenta descalça, para sentir o tempo e as batidas da canção) e referências visuais de afinação, ela simplesmente seguiu cantando, apesar de simplesmente não mais escutar. E o resultado é impressionante.
Ainda que o sentido de superação de sua apresentação dê à cena o componente emocional que torna as lágrimas inevitáveis, para além disso a apresentação de Mandy é de fato incrível, tanto na qualidade da canção - de sua autoria - quanto, pasmem, em sua bela afinação e voz. Mandy cantou a canção "Try" (Tente), que escreveu depois de tomar a decisão de não desistir por conta de sua condição.
Se a música é uma forma de arte naturalmente capaz de levar o maior dos cínicos aos prantos mais sinceros, nesse caso emocionar-se não é opcional para se ter certeza de que há um coração batendo no peito de quem vê a comovente e linda apresentação.