O médico e pesquisador Durval Batista Palhares começou a vender pizzas para financiar uma pesquisa importante sobre os efeitos de um medicamento no tratamento de crianças com autismo.
Essa foi a solução encontrada pelo doutor devido à falta de apoio governamental e a dificuldade em conseguir parcerias no setor privado.
Durval acumula quase 5 décadas de experiência no ramo da medicina, com pós-doutorado em Cleveland, nos Estados Unidos, e reconhecimento internacional como um dos maiores neonatologistas do nosso país.
Ainda assim, com tamanho currículo, ele não conseguiu viabilizar seu estudo, precisando apelar para pequenas ações de arrecadação de recursos para levar a importante pesquisa adiante.
Nos próximos dias, seu grupo de voluntariado pretende vender 400 pizzas por R$ 40 cada – com R$ 14 de lucro por pizza, – totalizando R$ 5,6 mil para o fundo científico.
Durval é membro da comunidade médica desde os anos 1970. Para ele, sua vida se resume a “pesquisar”. No entanto, hoje, ele depende de doações e ações sociais – como a venda de pizzas, – para viabilizar seu trabalho em prol da ciência.
Infelizmente, apesar de ser professor na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), a instituição recusou colocar verba em sua pesquisa. “Temos dois laboratórios, mas é só o espaço que eles dão. Não tem mais nenhum investimento”, lamentou.
Caso ele e sua equipe consigam vender as 400 pizzas, o lucro será de R$ 5,6 mil, valor suficiente apenas para a primeira compra de reagentes a serem usados no estudo já autorizado formalmente.
A pesquisa sobre os efeitos de um medicamento específico no tratamento de crianças com autismo começou em 2019, quando o médico descobriu que ele poderia tratar a fibrodisplasia ossificante, que leva alguns pacientes com transtorno do espectro autista a uma melhor socialização.
“Fizemos todos os testes para a aprovação da pesquisa, sem nenhum efeito colateral observado”, disse. A base do estudo se firma na tese de que o autismo é uma inflamação no sistema nervoso central.
Com o acompanhamento de outros especialistas, Durval encaminhou 19 crianças autistas para a primeira etapa da pesquisa.
Destas, 10 tomaram a medicação pesquisada e 9 um placebo. “[As que tomaram o remédio] apresentaram melhora significativa na interação com outras pessoas, na socialização”, garantiu o médico.
Durval é responsável pela implantação do atendimento de neonatologia no estado de Mato Grosso do Sul e virou referência em saúde de recém-nascidos.
Para os próximos meses, o neonatologista espera arrecadar fundos suficientes através de doações para selecionar 40 pacientes. Durante 4 meses, ele vai ministrar o medicamento, que mescla conceitos de biologia molecular, ao custo de cerca de R$ 500.
Seu objetivo é trazer avanços relevantes na pesquisa e colaborar com a cura. “Só quem sente na pele é que se preocupa com a pesquisa no Brasil. Dia desses, a avó de uma paciente doou R$ 50 mil, porque eu salvei a vida da neta dela lá no HU”, contou o médico.
Fonte: CG News
Fotos: Arquivo pessoal