Sabia que, atualmente, 35 milhões de brasileiros não têm acesso a água? A falta desse recurso tão básico e primordial para a sobrevivência atinge principalmente as comunidades em regiões semiáridas do Nordeste, onde famílias chegam a perder até seis horas por dia na busca de uma fonte. Foi então que a Ambev decidiu investir 100% do lucro da água mineral AMA em projetos que levam água potável para o sertão.
A iniciativa, que é o primeiro negócio social implementado por uma grande empresa no Brasil, é uma extensão do que a fabricante começou a fazer em termos de conscientização. Em entrevista ao Razões para Acreditar, a gerente de sustentabilidade da Ambev, Carla Crippa, contou que primeiro houve um trabalho de redução do consumo de água nas cervejarias, com foco no uso mais eficiente deste recurso. Além disso, há seis anos foca na preservação de bacias hidrográficas em regiões de stress hídrico, esforço feito junto à ONGs e comunidades.
Em meados de 2016, quando criaram o Comitê de Especialistas em Segurança Hídrica, passaram a pensar na idealização da AMA, uma água mineral que revertesse o rendimento das vendas em uma causa de impacto. "Não podíamos ficar parados diante do problema da escassez, especialmente nós que somos uma empresa que fabrica bebidas. Juntando todos estes pontos, nos instigamos a pensar em como podemos atuar para ajudar a solucionar este problema. Como poderíamos ser agente de mudança, usando nossa estrutura e recursos por um bem maior. Foi então que surgiu a ideia de criar a AMA, uma água que você bebe aqui e vira água para quem não tem no semiárido", explicou.
Atualmente, o Ceará enfrenta sua pior crise hídrica dos últimos 100 anos segundo dados da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). Por este motivo, a AMA priorizou o estado e iniciou suas atividades por lá, atendendo 3 mil pessoas em três projetos em comunidades rurais: Bom Nome/Aiuba, Sítio Volta/Jaguaruana e Carqueja do Sabino Mota/Capistrano.
A ação é resultado de uma parceria com a Fundação Avina e o Sisar, Sistema Integrado de Saneamento Rural, uma ONG do Ceará que criou um modelo comunitário para gestão de sistemas de bombeamento de água, reconhecido pelo Banco Mundial como um dos melhores sistemas de gestão de água rural do mundo. Segundo Carla, o projeto inclui perfuração de poços profundos de água, além da instalação de micro usinas de energia solar para barateamento do custo de distribuição, formando os primeiros sistemas rurais de água com energia solar no semiárido.
A rede de abastecimento é a mesma já construída anteriormente no local pela companhia de abastecimento do Ceará, a CAGECE, que leva água potável para as casas dos beneficiados. Os sistemas produzem de 10 a 15 mil litros de água potável por hora, o suficiente para abastecer cada comunidade de forma ininterrupta. Depois de implementados, passam a ser geridos pelas próprias pessoas que os usufruem.
Carla nos contou que as mudanças foram não só estruturais e relacionadas ao recurso básico, mas também de experiências de vida. "Durante a implantação do projeto no Ceará conhecemos um morador da comunidade que nunca havia tomado banho com um chuveiro, apenas de balde. Quando a água começou a jorrar de um cano a partir do poço escavado, ele correu para sentir a água escorrendo pela cabeça, uma sensação que ele nunca havia vivenciado. São momentos como esse que traduzem a importância deste trabalho".
No site oficial da AMA é possível acompanhar todo o lucro e os investimentos, verificados por uma auditoria externa, com o intuito de tornar a iniciativa tão transparente quanto a água engarrafada. Dessa maneira, o engajamento gera menos desconfiança, aumenta sua proximidade com o público e serve de exemplo. "Entendemos que temos um papel relevante na nossa sociedade e precisamos deixar um legado que realmente faça diferença na vida das pessoas. Estamos dedicando parte do nosso tempo para contar essa história e influenciar outras empresas no Brasil a também lançarem seus negócios sociais. Esperamos que mais empresas pensem desta forma e criem soluções que ajudem mais pessoas de um jeito diferente, engajando consumidores, parceiros e comunidade", finalizou Carla.